Thursday 31 May 2012

Judeus legais em Lisboa, Budistas presos no Tibete





Em Milão continua o Encontro Mundial de Famílias. Pedro Mota Soares é o primeiro governante português a marcar presença num destes encontros, no qual muitos só podem participar graças à generosidade de outros.

Ontem foi noite de debate na Renascença. A questão das famílias foi focada, bem como o escândalo “Vatileaks”.

Yom Huledet Same'ach!


Esther Mucznik (Foto DN)
Declarações de Esther Mucznik sobre o centenário da Comunidade Israelita de Lisboa à jornalista Filomena Barros. Pode ler a notícia aqui.

Fale-nos um pouco deste centenário
Esta comunidade, que chamamos a comunidade moderna é datada do início do século XIX, quando começaram a chegar judeus de Marrocos ou de Gibraltar que se instalaram em Lisboa, começaram a organizar-se e integraram-se muito bem na sociedade lisboeta daquela época. Organizaram-se com pequenas sinagogas em apartamentos, cemitério próprio, organizações de beneficência, tudo isso.

Mas na realidade a comunidade só foi legalizada, com os estatutos reconhecidos pelo Governo Civil de Lisboa, em Maio de 1912.

É isso que estamos a comemorar este ano, convidámos todos os Presidentes da República vivos, ministros, uma série de entidades oficiais, confissões religiosas que estão em Portugal, os amigos da comunidade. O que comemoramos sobretudo é a liberdade religiosa. A liberdade religiosa é um processo, não nos é dada de uma vez por todas. Começa com o final da inquisição em 1821, tem um arco importantíssimo em 1912 com o reconhecimento legal e tem um outro momento fundamental que é a lei da liberdade religiosa em 2001.

Mas não consideramos o caso encerrado. Hoje vivemos numa situação de democracia, de liberdade, o que é fundamental para a integração das pessoas e das comunidades, das minorias, na sociedade portuguesa, mas temos de estar sempre vigilantes porque a liberdade é um bem muito precioso, demasiado precioso para ser deixado assim sem nos preocuparmos com isso. É um processo. Comemoramos a liberdade religiosa, a vitalidade que a comunidade passou a conhecer depois de poder actuar às claras, a fidelidade da nossa comunidade aos princípios do Judaísmo e à vida judaica, e celebramos estes 100 anos com os olhos postos nos próximos 100 anos.

A cerimónia vai ter as mensagens dos diferentes representantes oficiais da comunidade. Vamos ter também um pequeno vídeo de 10 ou 12 minutos que passa história da comunidade nestes 100 anos. Vai ser distribuída uma brochura com a história mais aprofundada dos 100 anos da comunidade, é uma cerimónia simples, simbólica, vai ter também os salmos que serão lidos pelo rabino da comunidade e esperamos mensagens dos ministros que vão estar presentes, do presidente da Câmara de Lisboa, do secretário de Estado da Cultura também.

Esse documento que reconheceu a comunidade existe e está exposto?
Existe, somos os guardiões da memória, como sabe. Temos esse alvará. Ele não vai estar exposto mas estará no vídeo e na própria brochura.

Quantos membros tem a comunidade hoje?
Uma coisa é a comunidade, outra coisa são os judeus de Lisboa, nem todos pertencem à comunidade.

São à volta de 500 pessoas que são filiadas, que pagam as quotas, e cerca de 750 a 800 judeus em Lisboa.

É difícil dizer, é uma comunidade muito pequena. Ela é o resultado da história. Quando era possível os judeus virem para cá, Portugal já não era um país de grande atracção para imigrantes.

Agora tem muito mais gente que vem, por causa da União Europeia, mas são pessoas que vêm e estão uns anos e participam enquanto estão, mas depois muitos vão-se embora. É uma população flutuante, por isso é difícil dizer.

Finalmente temos também os descendentes dos antigos cristãos novos e que se consideram judeus. Por isso é que nos censos há sempre muito mais pessoas que se consideram judias do que os filiados nas próprias comunidades.


A este respeito, sugiro ainda a leitura deste artigo de Abril de 2011, sobre a lei de separação entre o Estado e a Igreja e os efeitos que teve para a comunidade judaica.

Wednesday 30 May 2012

A dor do Papa e heróis portugueses no Holocausto


Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho
Já começou em Milão o Encontro Mundial das Famílias. Já há milhares de pessoas naquela cidade e hoje puderam ouvir os Cardeais Ravasi e George Pell a falar sobre a “Casa” e o “Trabalho”.


Ontem foi lançado um livro sobre “Portugueses no Holocausto”, de Esther Mucznik. A autora esteve na Renascença e teve uma interessante conversa sobre a obra e o papel dos portugueses naquela tragédia, entre heróis e vítimas. (Na imagem, dois dos heróis).

Em Portugal nota-se cada vez mais a escassez de padres, mas não em todo o país! Os Açores, pelos vistos, têm a mais e estão dispostos a emprestar.

Hoje publicamos o 20º artigo de The Catholic Thing em português. O Jesuíta James V. Schall fala do Pentecostes e explora aquele conceito que tanto confunde os cristãos: O Espírito Santo. Vale a pena ler.

Pentecostes


James V. Schall, S.J.
Sempre gostei daquela passagem do primeiro capítulo dos Actos dos Apóstolos, a cena da Ascensão, em que, tendo observado os últimos momentos de Cristo na terra, aparecem dois anjos que perguntam aos apóstolos: “Porque estais aí a olhar para o céu?”

Com todo o respeito pelas mentes angélicas, não percebo que mais é que os apóstolos deveriam estar a fazer perante uma cena tão formidável. A repreensão é normalmente compreendida como sendo um espicaçar para que os Apóstolos comecem a cumprir a missão que o Senhor os deixou. A contemplação deveria extravasar para a acção. Ainda assim, os Apóstolos precisavam de algum tempo para absorver tudo aquilo.

A outra passagem está em Actos 19. Paulo está para os lados de Éfeso. Pergunta a uns discípulos se ja receberam o Espírito Santo. Eles respondem com franqueza: “Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo”. Pensando bem, de certeza que a maioria das pessoas no mundo hoje, se questionadas, responderiam da mesma forma. E nós, cristãos, que ouvimos falar no Espírito Santo ficamos confusos com a sua presença na Santíssima Trindade e no mundo. Esta confusão é um incentivo para pensarmos nesse mesmo Espírito Santo.

A cena de Pentecostes no Evangelho de São João surpreende-nos por outra razão. Os discípulos estão numa sala com as portas fechadas, com medo dos judeus. Cristo aparece no meio deles e diz-lhes: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.

Eles sabiam o que significava uma tarefa enviada pelo Pai. Então Cristo respirou sobre eles: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, mas aqueles a quem os retiverdes, serão retidos.” Com esta missão eles estão agora ligados ao plano divino através do mesmo Espírito Santo enviado pelo Filho e o Pai. O que é que isto significa?

São Basílio Magno escreveu um tratado sobre o Espírito Santo. “Os títulos dados ao Espírito Santo devem certamente mexer com a alma de quem os ouve”, diz-nos. “Eles levam-no a perceber que se trata de nada menos que o Ser supremo.” Que títulos são esses? Ele é “conhecido por Espírito de Deus, Espírito da verdade, que procede do Pai, o Espírito constante, o Espírio que guia. Mas o seu título principal e mais pessoal é Espírito Santo.” A Santidade representa a Trindade na sua vida interior.

No Credo de Niceia dizemos: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a Vida, que procede do Pai e do Filho; com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele falou pelos profetas.” Como é que entendemos que o Espírito “falou pelos profetas”?

Como é evidente, o que se passou no Antigo Testamento, aliás em todo o cosmos, bem entendido, foi a preparação para a Encarnação do Verbo no meio de nós. Da mesma forma, depois do regresso de Cristo para o Pai, o Espírito – o advogado – é-nos enviado para executar este mesmo plano.

A ideia de que possamos estar envolvidos num “plano” a ser executado pela divindade no meio de nós parece-nos um atentado à nossa autonomia. Não precisamos de ajuda. Supostamente é essa a nossa dignidade. Contudo, no seu discurso de despedida aos cristãos de Éfeso, Paulo, que não espera voltar a vê-los, diz que pregou o plano, ou o propósito, de Deus. Não se trata do seu plano pessoal.

Outro dos nomes dado ao Espírito é “dom”. A vida interior da Trindade desemboca no Espírito Santo. A plenitude da vida já está aqui. Ela não “precisa” de mais nada. Deus não precisa de nós porque lhe falta alguma coisa, não é essa a natureza da nossa relação com Ele.

À primeira vista pode parecer que este facto diminui a nossa significância. Mas é precisamente o contrário. Nós relacionamo-nos com Deus inteiramente por dádiva. Aquilo que somos neste mundo teve origem em algo que está para além da justiça. Existimos por causa da abundância, e não da necessidade, que existe no seio da Trindade. Este facto significa que tudo de nós, incluindo nós mesmos, é dom.

São Basílio também nos diz que o Espírito “ilumina aqueles que foram purificados de toda a mancha do pecado e torna-os espirituais pela comunhão consigo.” Às vezes esquecemo-nos que Cristo veio para o mundo para nos redimir dos pecados. Ele não veio para os ultrapassar, para nos dizer que não interessavam ou para fingir que nunca tinham acontecido. Ele veio para nos perdoar.

O que torna o Cristianismo diferente de todas as filosofias e religiões não é que elas não têm conhecimento do pecado ou de que há algo de mal com a humanidade; é que elas não têm forma de perdoar os pecados. Sozinhos, os cristãos também não. Também isso é algo que nos é dado.



James V. Schall, S.J., é professor na Universidade de Georgetown e um dos autores católicos mais prolíficos da América. O seu mais recente livro chama-se The Mind That Is Catholic.

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 29 de Maio 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday 28 May 2012

Mordomos, doutores e meio milhar de gatos


Ou não, neste caso.

O caso do mordomo do Papa continua a dar que falar. Aqui podem saber um bocado mais sobre Paolo Gabriele. Hoje, entretanto, o porta-voz do Vaticano falou do caso e lamentou a má imagem que estes escândalos passam da Igreja.

Ladrões de cobre continuam a fazer das suas. Em pelo menos uma localidade é por eles que os sinos não dobram.

Entretanto ontem foi dia de Pentecostes. Bento XVI recordou, para os mais esquecidos que o Homem não é Deus, e anunciou que a Igreja vai ter dois novos doutores, São João de Ávila e Hildegard Von Bingen. Para saber mais sobre esta mulher, e porque razão esta distinção é tão importante, clique aqui.

Por fim uma pergunta, se um membro do casal arranjar um gato, isso é causa para divórcio? Não? E se forem 550? Os rabinos que decidam.

Hildegard von Bingen, Doutora da Igreja


A decisão de declarar Hildegard von Bingen doutora da Igreja é assinalável por duas grandes razões.

Em primeiro lugar porque, contrariando a tradição, Hildegard von Bingen nunca foi canonizada. É possível que ainda o seja até à proclamação oficial, mas não deixa de ser um factor interessante. A 10 de Maio de 2012 o Papa estendeu o culto a esta beata a toda a Igreja, num processo conhecido como canonização equivalente, e num sinal antecipado desta decisão.

Segundo, com esta decisão Hildegard von Bingen torna-se apenas a quarta doutora da Igreja que existe, em contraste com 31 homens (já a contar com S. João de Ávila). Mesmo assim, quatro não é nada mau, se tivermos em conta que até 1970 não havia nenhuma. As outras três são Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha de Lisieux.

A declaração de um doutor da Igreja é um evento raro e de grande importância, como se nota pela sua relativa escassez. A decisão reconhece a importância da figura e o facto de toda a Igreja ter beneficiado dos seus ensinamentos.

Hildegard von Bingen nasceu no século XII, foi monja beneditina e é autora de vários textos e poemas. Era mística e vidente, para além de ter sido destacada noutras áreas como a botânica e medicina.

Friday 25 May 2012

The butler did it!


Paolo Gabriele, mordomo de Bento XVI

A culpa, obviamente, era do Mordomo! O mordomo do Papa foi hoje detido no Vaticano, parece que terá estado envolvido na divulgação de documentos secretos da Santa Sé.


E este fim-de-semana é o Pentecostes. Digo fim-de-semana porque para os cristãos é no Domingo, mas para os judeus é no Sábado. Para esta reportagem falei com o padre Pedro Lourenço sobre a vertente cristã e com o rabino de Lisboa Eliezer Shai, foram duas curtas conversas muito interessantes, que podem ler na íntegra clicando nos links.

"Pentecostes é entrega da nova lei, gravada nos corações"


Transcrição integral da entrevista ao padre Pedro Lourenço, sobre a importância e o significado da festa de Pentecostes para os cristãos. A notícia encontra-se aqui.

Qual é a importância da festa do Pentecostes?
A solenidade de Pentecostes é o encerramento do tempo da Páscoa, é o último dia do Tempo Pascal. Não é só uma festa de fecho mas de completar aquilo que é o sentido da Páscoa. O tempo pascal é o tempo em que celebramos a Ressurreição de Jesus e o seu dom mais importante, o dom do Espírito.

Cinquenta dias depois há esta celebração para recordar aquilo que aconteceu aos apóstolos, descrito no Acto dos Apóstolos, o dom do Espírito sobre os apóstolos reunidos em oração e, por sua vez, a sua missão para toda a Igreja e envio ao mundo.

É a altura em que a Igreja sai do Cenáculo…
É interessante reparar que a tradição cristã, e a tradição litúrgica na vivência cristã, coloca a celebração do dom do Espírito no chamado dia de Pentecostes que já se chamava assim na própria vivência judaica. Era já um dia significativo para o calendário judaico.

Mas no Evangelho de São João o dom do Espírito não acontece assim separado 50 dias da Páscoa. Na tarde da Ressurreição estavam reunidos os apóstolos e Jesus aparece no meio deles e comunica-lhes o Espírito Santo. Sopra sobre eles e diz: “recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados”.

Portanto o dom do Espírito na perspectiva da teologia de São João é um fruto imediato da Páscoa, na perspectiva dos Actos dos Apóstolos, e isso depois marcou o calendário cristão. Acontece 50 dias depois da Páscoa, a culminar esta obra de Cristo. É a realização da promessa que tinha feito aos discípulos: “Eu vou para o Pai, mas sereis revestidos da força do alto e sereis minhas testemunhas”, neste sentido pode-se dizer que é de facto a manifestação deste dom de Deus que faz com que a Igreja se manifeste ao mundo realizando a sua missão.

A Igreja nasceu na Cruz, mas a manifestação da Igreja e a sua capacidade de testemunhar é fruto do Espírito que se manifesta agora no Pentecostes.

Se os Judeus celebram a entrega da Lei a Moisés neste dia, do ponto de vista cristão pode-se ler o Pentecostes como o dom de interpretar correctamente a Lei?
Essa perspectiva não está excluída, mas mais do que isso, trata-se de entender o espírito como a plenitude da Lei, a nova Lei de Deus, gravada nos corações, pelo dom do Espírito.

Para os judeus esta festa era primeiramente a festa das colheitas, depois ganha esta perspectiva teológica de ser o dom da Lei.

Sem dúvida que os acontecimentos bíblicos servem-se da perspectiva profética que existia na vivência da fé judaica, dando um novo sentido, um sentido cristão, ao que se realizava. O chamado dia de Pentecostes não é um nome cristão, os actos dos Apóstolos dizem que “quando chegou o dia de Pentecostes os apóstolos estavam reunidos”, era já um dia assim chamado no próprio calendário judaico e significava os 50 dias depois da Páscoa judaica, também.

É entendido na perspectiva cristã como o completar-se desta obra pascal pelo dom do Espírito e nesta perspectiva da Lei como a nova Lei dada por Deus a partir de Cristo, que não anula a Lei anterior, que a leva à plenitude, como o próprio Cristo diz.

Que tradições estão associadas a esta festa litúrgica?
Nós agora referimo-nos ao Pentecostes como o quinquagésimo dia, ou seja, cinquenta dias depois da Páscoa, mas nos primeiros séculos os autores referiam-se ao “tempo de Pentecostes”, ou seja ao tempo dos cinquenta dias entre o tempo de Páscoa e o quinquagésimo dia.

Todo este tempo era o “tempo do Pentecostes” e por isso o tempo do Espírito Santo, e na tradição popular portuguesa encontramos as Festas do Espírito Santo, muito vincadas nos Açores. Este culto ao Espírito Santo manifesta-se como experiência de caridade, de vivência da humildade. Isso manifesta-se na caridade fraterna, a matança do boi e da carne que chega para todos, do pão dado a todos, as sopas do Espírito Santo, nos Açores.

Aqui no Continente essas tradições perderam-se bastante, ainda se conserva nalguns locais mas com pouca expressão, por exemplo em Alenquer havia as festas do Espírito Santo; e no Penedo, em Sintra. A festa dos Tabuleiros em Tomar tem, creio, essa origem, com a ideia do pão para todos. Isto ligado à tal tradição judaica de acção de graças pela colheita, aquilo que recebemos como dom de Deus reparte-se para todos pela acção do Espírito, que é amor.

"Podia ser um dia de aproximação"


Rabino Eliezer Shai
Transcrição integral da entrevista ao rabino Eliezer Shai, sobre a importância e o significado da festa de Shavuot [Pentecostes]. A notícia encontra-se aqui.
Rabino Eliezer Shai

Qual é a importância da festa de Shavuot no calendário judaico?
Shavuot faz parte de um ciclo único com a Páscoa. O facto de se chamar Pentecostes, que é uma palavra grega, é por ser o quinquagésimo dia. Da Páscoa contamos 49 dias e o 50º é Shavuot.

Na Páscoa os judeus ganharam liberdade física, o princípio de uma nação, é imprescindível que essa nação seja livre. No Pentecostes recebem a própria constituição, que é a Torá, com a revelação no Monte Sinai. Biblicamente vemos que Shavuot tem várias denominações: Shavuot, que significa festa das semanas, porque se contam sete semanas desde a Páscoa; Festa das Colheitas, porque é nessa altura que se começa a fazer as colheitas dos frutos, e também o Dia das Primícias. Outro significado é o dia da entrega dos dez mandamentos no Monte Sinai.

Que tradições estão associadas ao Shavuot?
Na altura do Templo fazia-se a oferta das primícias e de dois pães feitos com a primeira farinha produzida depois da Páscoa.

Hoje em dia o que fazemos são as orações, dois dias para os judeus na diáspora, um dia em Israel. Lê-se publicamente a passagem do Êxodo, da entrega dos dez mandamentos, os três dias à volta do Monte Sinai, e a grande epifania, da revelação colectiva dos dez mandamentos e da Torá.

Além disso lemos também o Livro de Rute, porque Rute converteu-se ao judaísmo, passou a ser parte do nosso povo, aceitou a Torá. Assim como o povo de Israel aceitou a Torá nesse dia, Rute recorda-nos esse processo.

Poderia ser um dia de aproximação e aprofundamento entre cristãos e judeus?
Eu gostaria muito que assim fosse. Não tendo nenhuma coisa negativa associada a este dia, podia ser bem um dia de aproximação e conhecimento entre as duas fés. Não sei, nem sou expert, até que ponto, entre o povo, o dia de Pentecostes é considerado um dia importante.

Mas podia-se fazer previamente uma actividade de Estudo em conjunto para conhecer esse dia tão importante para as duas religiões.

Thursday 24 May 2012

Banqueiro demitido, freira promovida e Küng apanha o 18


Those were the days...
O presidente do Banco do Vaticano (na foto) foi hoje demitido. Se não me engano isto estará ligado à questão das fugas de documentos e deverá dar mais que falar.

Se tudo isto são preocupações para o Papa, ao menos há quem lhe queira dar música. Dulce Pontes, por exemplo.


Hoje é dia de oração pela Igreja na China, um assunto recordado ontem no debate semanal da Renascença.

No mesmo debate o juiz Pedro Vaz Patto recordou que os portugueses votaram para liberalizar o aborto, mas ninguém disse que tinha de ser de borla

Uma nota final para uma portuguesa que foi hoje nomeada responsável mundial pela Ordem das Irmãs Hospitaleiras, uma congregação que se dedica sobretudo aos doentes mentais.

Küng, a velha do eléctrico 18


No meu dia-a-dia, em transportes públicos e no bairro onde vivo, é frequente assistir às litanias de queixas dos idosos. Sem pôr em causa a legitimidade das suas queixas, confesso que é deprimente perceber que há pessoas que chegam à velhice desiludidas, revoltadas, que apenas vêem razões para refilar sobre tudo o que se passa no mundo.

Vem isto a propósito de Hans Küng. O teólogo suíço é simultaneamente o porta-voz e o espelho de uma corrente dentro da Igreja que se assume como crítica da hierarquia e, sobretudo, do Papa.

Tal como as velhinhas que ouço a falar no eléctrico, Hans Küng só se sabe lamentar.

Há semanas, tendo sido convidado para participar num evento comemorativo do Concílio Vaticano II, o teólogo suíço agradeceu mas recusou, dizendo que no clima actual da Igreja, seria mais adequado um serviço fúnebre.

Agora, contudo, parece ter perdido completamente o norte e num texto publicado num jornal alemão chega ao ponto de acusar o Papa de ser cismático. Sim, leram bem, não é Küng – que está impedido de ensinar teologia católica, que abraça movimentos que fazem “apelos à desobediência” e que aceita de bom grado prémios entregues pela maçonaria – que é cismático… é Bento XVI.

E porquê? Tudo porque o Papa cometeu o terrível pecado de convidar de volta à comunhão da Igreja cristãos que estavam afastados há muito tempo. Um gesto louvável de ecumenismo, dirão alguns… e não é Küng um grande defensor do ecumenismo?

Mas o problema é que estes, que tudo indica irão agora regressar à Igreja, são os cristãos errados. Não são os protestantes amigos de Küng, são os tradicionalistas da Sociedade de São Pio X, e para Küng, pelos vistos, a hospitalidade ecuménica deve servir-se só a alguns.

Küng alerta que os tradicionalistas da SSPX são “ultra-conservadores, anti-democráticos e anti-semitas”. Eu próprio já argumentei aqui que apesar de ser favorável a esta reintegração, os membros da SSPX são, em boa parte, gente complicada, triunfalista e arrogante.

Mas serão mais desagradáveis que os 400 ou mais padres que, sobretudo na Áustria fazem “apelos à desobediência”, professam abertamente opiniões que são incompatíveis com o catolicismo mas que, todavia, continuam em comunhão com Roma? Devem uns estar dentro e outros fora?

No seu texto, Küng avisa que os bispos e padres tradicionalistas têm ordens “certamente inválidas”. É uma opinião que alguns, muito poucos, defendem, mas que o Vaticano sempre descartou. Tanto que qualquer católico pode, sobretudo se não tiver um sacerdote ou uma paróquia “regular” por perto, participar dos sacramentos com sacerdotes da SSPX.

Mas o mais curioso é que mais à frente Küng afirma que em vez de perder tempo com estas criaturas terríveis, o Papa devia era “reconciliar-se com as igrejas reformadas” [protestantes]. Sr. Padre Küng, se as ordens dos tradicionalistas da SSPX são inválidas, as do clero das igrejas reformadas são o quê?

Humildade e obediência
Küng está revoltado. Foi um dos protagonistas do Concílio Vaticano II e é com horror que, perto do fim da sua vida, vê na Igreja um ambiente que pretende recuperar alguma da herança que depois do Concílio se pensava perdida. Ele, e outros, mostram-se muito ciosos dos documentos conciliares nesta altura, esquecendo-se que nos mesmos documentos que juram estar a defender, não existe qualquer abertura ao sacerdócio feminino, à aceitação das práticas homossexuais ou à abertura da Eucaristia a todos, que tão vigorosamente advogam. É o grande problema do “Espírito do Concílio”, aquela coisa vaga que serve para cada um defender o que bem quiser com a suposta autoridade do Vaticano II.

Até coloco a hipótese, embora para mim pouco provável, de Küng ter razão nos seus queixumes. Não há falta de exemplos de santos e santas que foram injustiçados pela hierarquia e silenciados, tendo sido reabilitados só postumamente. Mas a grande diferença entre esses e Küng é o espírito de obediência, fruto de uma tremenda humildade. Coisa que quem promove “apelos à desobediência” jamais compreenderá.

Sei que Hans Küng tem trabalho feito, e bem feito, na área da Teologia. Que é um dos teólogos incontornáveis do século XX, sobretudo do período do concílio.

Infelizmente, para a minha geração, ele será lembrado para a posteridade como um velho revoltado que só se sabe lamentar e queixar. Como as velhas do 18, que me acompanham todas as manhãs.


Filipe d'Avillez

Wednesday 23 May 2012

Pró-escolha, pró-vida, parceiros e presos


O número de americanos que se considera a favor do aborto tem descido ao longo da última década. Numa sondagem revelada hoje apenas 41% define-se como pró-escolha, contra 50% que se considera pró-vida.

Os escândalos de abusos sexuais não afectam apenas a Igreja Católica. Também os judeus ultra-ortodoxos têm de lidar com este flagelo, mas uma cultura de silêncio e isolamento torna tudo mais complicado. Ainda assim, na Segunda-feira um abusador foi condenado a 20 anos de cadeia.

E o missionário Monsenhor Manuel Teixeira, que fez tanto por Macau, será recordado hoje no Museu do Oriente.

Hoje é dia de artigo de The Catholic Thing. Randall Smith questiona a mania das pessoas se referirem à sua cara-metade como “partner” (parceiro ou parceira), em vez de Marido e Mulher. Pessoalmente, em Portugal noto mais a tendência das pessoas se referirem ao “marido” ou “mulher” mesmo quando não são casados… mas o problema de fundo é o mesmo. Vale a pena aprofundar…

Para quem vive para os lados do Estoril, não se esqueçam que o especialista em Teologia do Corpo, Peter Colosi, fala hoje no Seminário de Caparide, às 21h30. A sessão é livre e aberta ao público. Podem recordar a entrevista que fiz a Colosi aqui.

Howdy Partner


Randall Smith
Acabo de regressar de Inglaterra, onde senti um daqueles pressentimentos preocupantes de “coisas que hão-de chegar aqui”. As pessoas que conheci em Inglaterra referiam-se sempre aos seus “parceiros”, nunca aos seus “maridos” ou “mulheres”. Dizem-me que é igual na Irlanda.

Inicialmente pensei que era apenas porque estava a conhecer pessoas que não eram casadas, até que uma simpática professora católica me explicou que, pelo menos no seu meio, nunca se fazia referência ao “marido” ou à “mulher”, mas sempre ao “parceiro”. O contrário poderia ser considerado mal-educado ou, pior ainda, “discriminatório”.

Recorrer a estas palavras proibidas poderia sugerir que se acredita que há uma diferença entre duas pessoas que estão “sexualmente envolvidas” e duas pessoas que, diante de Deus e de todos os seus amigos, se comprometeram publicamente a viver uma vida em conjunto na aliança sacramental do casamento.

Por isso, para evitar que os outros se sintam discriminados, é simplesmente vedado aos casados usar vocabulário que sugira que o são.

Sejam quais forem os benefícios destas medidas de austeridade linguística, levantam problemas. Um consiste em saber se o “parceiro” é um homem ou uma mulher [Na língua inglesa não existem géneros, pelo que “partner” se refere tanto ao masculino como ao feminino]. Não é raro ter de esperar ansiosamente até que o nosso interlocutor use o pronome respectivo (ele ou ela), antes de poder fazer as perguntas simpáticas do costume: “Há quanto tempo a conhece?”, “Onde é que o conheceu?”, mas calculo que a falta de claridade sobre o sexo é um dos objectivos: tais distinções são precisamente o tipo de discriminações que se querem evitar.

Mas outro problema com a palavra “parceiro” é que é tão fungível. Não é fácil perceber de que tipo de relação é que o interlocutor está a falar. Afinal de contas, na nossa vida temos uma grande variedade de “parceiros”: parceiros de negócios, parceiros de ténis, parceiros de ginástica, parceiros de dança.

Quando um homem me diz “A minha parceira está agora em França”, o que é que é suposto eu pensar? Que sofre de privação de ténis? Que está a fechar um negócio bestial em Paris? Ou que está interessado em ter um caso? É muito pouco claro. Mas nada disso interessa; o importante é que ninguém se sinta discriminado.

Talvez eu seja malandro, ou talvez seja porque vivo no Texas há tanto tempo, mas sempre que alguém me apresenta o seu “parceiro” ou “parceira”, apetece-me cumprimenta-lo com o meu sotaque texano mais cerrado: “Howdy par’dner” [Olá parceiro].

Mesmo quando consigo evitar essa tentação há outras questões que surgem naturalmente, dada a natureza tão flexível de tais “parcerias”.

Há quanto tempo é que está com o seu parceiro?
Trabalha no mesmo escritório que o seu parceiro?
Vive na mesma casa que o seu parceiro?
Vive no mesmo país que o seu parceiro?
Há quanto tempo é que não vê o seu parceiro?
O seu parceiro tem muitos outros parceiros?

É tudo muito confuso, mas suponho que o objectivo seja mesmo esse.

A pressão para acabar com a distinção de “casamento” surge, curiosamente, numa altura em que os “casais homossexuais” querem ser reconhecidos como “casados”. É de admirar que os homossexuais se preocupem tanto em poder “casar”, quando os heterossexuais fizeram tanto para desvalorizar e esvaziar o conceito.
Parceiros, ou parceiros?
Será que os homossexuais, tendo conseguido o estatuto de “casados” passarão a recusar-se, como todos os outros, a referir-se aos “esposos” (seja marido ou mulher), e falar simplesmente dos seus “parceiros”? Seja como for, a raiz do problema não são os “casais homossexuais”, é a confusão que foi criada pelos heterossexuais em relação àquilo a que se costumava chamar “casamento”.

Deus escreve direito por linhas tortas. Seria interessante se a pressão a favor do “casamento homossexual” levasse as pessoas a pensar mais a sério sobre a verdadeira natureza do casamento e o que distingue aqueles que são “casados” daqueles que são apenas “parceiros”.

Se não existe mesmo diferença, então porque é que alguns lutam tanto para conseguir o estatuto de “casados”? O que é que eles compreendem, mesmo que apenas implicitamente, que tantas pessoas no resto da sociedade insistem em esquecer?

Será porque de facto uma “parceria” indefinida não é nada? Parece que sofremos da ilusão de que podemos definir as nossas relações da mesma maneira que pensamos que nos podemos definir a nós próprios: de acordo com as nossas vontades e manias. A realidade, porém, é que não se pode ter os benefícios de um compromisso sem o compromisso.

No seu ensaio “O poder dos Sem-poder”, Vaclav Havel falou de forma eloquente sobre os regimes autoritários, tudo se torna uma mentira, mesmo as coisas mais simples. Um dos grandes gestos de revolta que um sem-poder pode praticar, nestas circunstâncias, é falar e agir de forma a “viver na verdade”.

Ele imagina o caso de um merceeiro que coloca um cartaz na sua loja que diz: “Proletários de todo o mundo uni-vos!”, não porque pensou dois segundos sequer sobre a frase, mas porque era esperado que o fizesse. Havel pede-nos que imaginemos que “um dia, algo no merceeiro cede e ele deixa de colocar cartazes só para entrar nas boas graças de alguém.”

“Nesta revolta”, diz Havel, “o merceeiro deixa de viver na mentira. Ele rejeita o ritual e quebra as regras do jogo. Descobre novamente a sua identidade e dignidade suprimidas. Dá à liberdade um significado concreto. A sua revolta é uma tentativa de viver na verdade.”

Deixemos os outros referir-se aos seus “parceiros”. Não é preciso sermos críticos. Eles que façam como quiserem. Os católicos, porém, devem deixar claro que têm “maridos” e “mulheres”, não só pelo vocabulário, mas pela forma como vivem em conjunto e como se tratam no casamento.

O objectivo devia ser de mostrar que pode haver algo melhor do que aquilo com que tanta gente se contenta.


(Publicado pela primeira vez no Sábado, 19 de Maio 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

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Tuesday 22 May 2012

Todos fortes, todos diferentes



Os israelitas também são fortes e por isso mesmo não tencionam largar mão dos lugares santos de Jerusalém. Netanyahu diz mesmo que isso seria um “erro fatal”.


Na Irlanda querem-se fazer das fraquezas forças e criar um “Dia da Expiação” para pedir perdão às vítimas de abusos sexuais. A Igreja já disse que alinha… só é pena que a ideia tenha tido que partir de uma vítima.

E segundo os tradicionalistas bem precisamos todos de força, isto porque “O diabo está à solta”, e quer evitar a reintegração da SSPX na Igreja.

Finalmente, para quem não pôde ir à conferência de ontem de Peter Colosi, podem ver o vídeo no blogue, graças ao trabalho da Infovitae, que agradecemos. Força aí!

Peter Colosi na Católica - Vídeo

Com agradecimento à Infovitae, deixo aqui o vídeo da conferência de Peter J. Colosi de ontem, na Universidade Católica.




Podem ver aqui a reportagem feita na Renascença e podem também ler a entrevista que eu lhe fiz na íntegra, aqui.

Monday 21 May 2012

Teologia do Corpo, sismos e twitter


É já daqui a pouco que começa a conferência na Universidade Católica com Peter J. Colosi , especialista em Teologia do Corpo (na imagem). Aqui podem ver a entrevista que lhe fiz.

Colosi vai dar outras conferências, na notícia estão as datas, locais e horas. Para quem está interessado em aprofundar mais o tema, leiam aqui a transcrição completa da entrevista, sem cortes nem edições, na qual Colosi fala também da actualidade americana.

Mudando de ares, no Paquistão o twitter foi suspenso, por risco de blasfémia contra o Islão.

O Papa falou do atentado e do sismo que abalaram, em diferentes sentidos, a Itália durante o fim-de-semana.

Teologia do Corpo - Entrevista com Peter J. Colosi


Below is the full transcript of the interview with Peter J. Colosi, who specializes in Theology of the Body. The news item can be found here.

Aqui fica a transcrição completa da entrevista com Peter J. Colosi, especializado na Teologia do Corpo. A reportagem está aqui.

Veja as horas e locais das conferências no fim da entrevista.

So what exactly is Theology of the Body?
It is a series of lectures that John Paul II gave publicly during his Wednesday audiences, outside St. Peter’s. He had actually written them all before this, but over a four year period he delivered 20 lectures. It’s a beautiful catechesis on what it is to be Human, with an emphasis on the theme of Marriage, Family and Sexuality.

People mostly associate this concept with issues regarding sexuality, but there are other aspects as well, correct. He mentions resurrection of the body, for example.
It almost opens like a play. Jesus is speaking at the beginning of Matthew 19 with the Pharisees, who ask him if they can divorce their wives and remarry. They say that Moses let them do this, but Jesus says he did so out of the hardness of their hearts, but at the beginning it was not so. He goes back to Genesis and this is very striking because he divides time into three periods, the original state, the fall and the redeemed state. All three are mentioned in the book of Genesis, but he says you can’t use the fall as permission to sin, because the way Adam and Eve were before the fall, we still have an echo of that in our hearts, and they loved each other fully and even though the fall has happened, we have to love each other like Adam and Eve did before the fall. And the redemption, the resurrection, gives us the grace to do so, even though it is a challenge.

Did these lectures introduce any novelties to church teaching on these issues? Or did they just rephrase them?
The novelty is that John Paul II explains them in a way that everyday people can understand, and live joyfully. Typically, from church teachings on sexuality, everybody knows what the prohibitions are, and what is allowed. But John Paul II decided he wanted to give a rich explanation of what it is to be Human, because if one lives according to church teaching on sexuality it is a source of profound happiness.
He wanted people to make people understand the happiness that can come from living according to church teaching, and that is difficult if you just have a list of  yes and no’s.

Were the lectures well received? Were there suspicions at the time?
A lot of people were surprised because there was the Pope talking about human sexuality in a way that was so beautiful, and nobody had heard a Pope speak for four years about these themes. Many were surprised. There were times when the Media really attacked the Pope. For example in one of the audiences he talked about the passage where Jesus says that you can commit adultery in the heart every time you look at a woman lustfully. Then the Pope said that it is possible for married people to commit adultery in the heart with their own spouse, and what he meant by that was that men can still think of their wives as sex objects even if they are married to them, and they shouldn’t, they should think of them as a person who they love. And the media went berserk, because they didn’t want to accept that lust still needs to be overcome in marriage. But in general it was a novelty because a Pope was talking about human sexuality in a way that was full of life and happiness.

This was almost 30 years ago, yet we still have the idea, amongst Catholics, and especially amongst those who are more critical of the Church, that the Church is more about no’s than yes’s and that it has a very negative view of sexuality. Why is this the case?
One reason is because the text is very long and it is very challenging. He was a trained philosopher and, you could also say, a philologist. The footnotes are full of references to ancient languages and to philosophers who people don’t know very much about. But he really presented a metaphysical, theological, scriptural meditation on the meaning of human sexuality. It’s one of these texts somebody like St. Augustine might write, like The City of God, which will take 100 years for the church to interiorize.
This is why I am here in Portugal. Next year, from 13-16 June 2013 we are having a conference in Fátima with many speakers who can really break this down and explain it to people from many different angles, from Theology, from practical life, philosophy, Scripture. So it’s true that it hasn’t been absorbed yet, one reason is because the text is difficult, but there are many people working on trying to make it understandable, which often is the case with texts like this. It took a long time for the Church to absorb Thomas Aquinas’ teachings, and it will be the same with this text.


George Weigel described these teachings as a “timebomb” set to go off in the third millennium; could this really change the face of the Church?
I really think it could. On the one hand it is true that it hasn’t been absorbed yet. On the other hand it actually has. There is a large percentage, maybe more so in America than in Europe, who are hearing talks about this from people who can break it down, or who are taking the time to read it themselves, which is a good thing to do, the passages are very short. And it is changing their lives, there are people who read this and stop watching pornography, there are people who read this and stop using contraception with their spouses and switch to natural family planning. They read this and realise they should respect people more and stop being promiscuous, because this is a source of happiness.
So I think the quote is true, this has the potential to really make people yearn to live according to Church teaching. Maybe because now, after the 60’s and so forth, everybody is so broken by divorce, contraception, using each other as sex objects. Maybe we could say now people are looking for a deeper experience of sexuality, and I think this has a potential to explain it to people.
The prohibitions are still there. No sex before marriage, marriage only between a man and a woman, no contraception, but when people accept why, they are willing to accept the challenge, because they want the beautiful fruit.

What it the main stumbling block, what do people have most difficulty in understanding and accepting?
The anthropology. When John Paul II uses the word anthropology in this book, he just means what it is to be a Human Being; we are a bodily spiritual unity. He often likes to say you are your body, not because he is a materialist, but because your soul is so close to your body, so present in it. Today we separate, people think of their body as separate from themselves, so they can do all these sexual things with their body, they can go and have an abortion, and it isn’t going to affect them.
To get people to realise the profound unity of the spiritual and bodily that we are is the first step which is difficult to explain, because we live in a dualistic society. If a slap or a hug has the power to touch your soul, then how much more so human sexuality.
As you go through the text you get this idea of self-donation, making a gift of yourself. And it is precisely because our bodies and our souls are one, that through Human expression, like a smile or a hug we reveal our souls to each other. And in human sexuality God has set things up where through the conjugal act, by which children come into the world, we are able to give ourselves as a whole gift to the other person, but you need to commit yourself with your will first, through marriage, otherwise it is sort of a lie, with your body.

How do people usually react when you speak about this issue?
I don’t like to be harsh on bishops or priests, I think after the 1960’s it was very difficult for them to understand how to explain Humanae Vitae. But after I give a talk somebody always asks “how come we never hear about this from the pulpit?” They want to hear it.

How should priests address these issues?
One thing would be to try to work through the text itself, or to try to get some of the secondary sources, or to listen to some talks about it. On my website I have some talks that people can listen to, where I break it down, but I do think that maybe the priests and the bishops could be a little bit more courageous than in the 1960’s because we have a way to explain. It was right for them to be afraid, because all they had was the prohibitions, if you just go up and say no, no, no, you lose parishioners. But if you take the time to interiorize this text you get the tools to give you confidence.
There are more and more priests who are, because of this text, finding the courage and the tools to speak. You have to do it pastorally, take time, I always tell the students not to give the homily right away on the prohibitions. Start by talking about sacrifice, self-donation, body-soul unity, some of these themes, and then at the end of the year they will be ready to hear a homily directly about contraception.

Did John Paul II write this on his own? Did somebody help him?
Before he wrote this text he wrote a more philosophical one called Love and Responsibility, and that was published before he became Pope. Then the translator of this book found out that John Paul himself, before he became Pope, had written this entire book. Nowadays Popes write books, but at the time it wasn’t so common, and somebody told him he couldn’t publish it, and he thought he’d get around it using his Wednesday audience. So every week he would take a small section and write an introduction, then a nun would turn it into Italian, and that is what he would read, so yes, he wrote it himself. He seems to have been doing lectio divina when he wrote it, pondering Scripture quietly, in fact he wrote it in front of the Tabernacle, they found out.


There seems to be a war, as some call it, between the Obama Administration and the Catholic Bishops, mainly about the HHS mandate. What is your view on this?
The Health and Human Services is a department of our Federal Government which has a cabinet level secretary whose name is Kathleen Sebelius, and she is a Catholic. What they are doing is forcing all the institutions in America, including the Catholic ones, to pay for contraception, sterilization and the pills which cause abortion. The Church, obviously, says these are intrinsic evils.
This is a violation of the First Amendment, which stipulates that there is Freedom of Religion, which means you should be able to practice your religion publicly and participate in policy debates even from your religious perspective. What is happening now is that the Obama administration is trying to delete that. They are trying to silence the religious voice.
This mandate could close all Catholic hospitals, and these are huge, there are many of them. Sadly, even though many Catholics are using contraception and having abortions, it is different for a Catholic hospital to have a policy that supports it. The bishops in America are fighting this from a religious freedom perspective, to try and build a coalition. But I do think it is interesting that the administration chose contraception for their first attack against religion. Because they know the bishops are a little bit afraid to talk about it, and they are having a little bit of trouble getting a groundswell of support because many Catholics use contraception.
I don’t know what the best approach is. I can see their reasoning for focusing on religious freedom and not on contraception, but Pope Paul VI, in Humanae Vitae, predicted that when contraception became widespread the governments would use it as a tool to try and quash religion. So I think they should, not on TV, but in their dioceses, try and talk more about theology of the body.

You say that Obama is trying to silence the religious voice, yet he explicitly invoked his beliefs when he came out in favour of gay marriage…
In its teachings about homosexuality the Church always begin by saying that everybody has the dignity of the person and needs to be loved. Now the Church does hold the view that to freely choose to act on homosexuality is a sin. The same-sex attraction is a state of somebody’s soul which is disordered. But the people should be loved.
There are many reasons why the Church defends that marriage is between a man and a woman, but the reason why the State has an interest in defending this definition is because that is the best thing for children, to have a mother and a father. The complementarity of men and women is the source of happiness for children, and that is a good for society, and that is the reason why the State has an interest in defining marriage as between a man and a woman, because it is the best thing for children. This is clear in Church teaching and in Scripture, both in the old and new testament.
It is Christian to love people with same-sex attraction, but it is not Christian for the state to define marriage out of existence.

You mentioned that people are thirsty for a deeper understanding of sexuality, yet we see a surge in legislation for same-sex marriage…
It is a war in America. There are many groups fighting to keep the definition of marriage as between a man and a woman, so far we have had referenda in about 30 states, and they have all voted to keep it as between a man and a woman. So I’m hoping that trend keeps going, and as I said this is not an attack on people who are homossexuals, it is a desire to keep this definition of marriage for the good of society, because if you redefine marriage out of existence it is going to have delitorious effects.
It is hard to make predictions. I think if Obama loses the next election there will be more resources at the federal level to encourage these States. All these things are supposed to be at the state or local level, and he is taking them to the federal level.
The most importante thing is the grass roots, and I would encourage the bishops and priests to read this and explain it to the people in their parishes, to build up a proper understanding. It would be great to get some federal laws in place, but we really need people at the local level to interiorize the goodness of this teaching, that is the best.

Hoje o professor falará na Universidade Católica às 18h30. Amanhã está prevista uma conferência às 21h30 na igreja paroquial das Caldas da Rainha e na quarta outra, à mesma hora, no seminário de Caparide. Quinta-feira é a vez do seminário de Almada, novamente às 21h30. Todas as conferências são públicas e de entrada livre

Tuesday 15 May 2012

Dia da Família, crise moral da China, menos missionários


Hoje é dia da Família. Em tempos de crise, a psicóloga Margarida Neto explica que se não fossem as famílias a situação económica estaria muito pior.

A propósito da família, a Cáritas Europa critica duramente a União Europeia, alegando que muitos países não cumprem as suas obrigações quanto ao reagrupamento familiar.

Há menos missionários religiosos portugueses no mundo, mas mais leigos, revelam dados apresentados hoje.



Nos próximos dias, salvo notícia urgente, este serviço vai de férias. Por essa razão foi antecipada a publicação do artigo de The Catholic Thing desta semana. Francis Beckwith fala sobre o tema do momento e desmonta a justificação teológica por detrás da defesa que Obama fez do “casamento” homossexual.

O Presidente, Jesus e a Regra de Ouro


Francis J. Beckwith
O Presidente Barack Obama acaba de anunciar [Quinta-feira dia 10 de Maio] que apoia o “casamento” entre homossexuais, numa entrevista ao jornalista Robin Roberts, na cadeia ABC. Ao explicar as suas razões, o Presidente ofereceu a seguinte reflexão teológica:

“Sabes, nós [a Primeira Dama e eu] somos ambos cristãos praticantes e claro que pode parecer que esta posição nos coloca em conflito com as opiniões de outros mas, sabes, quando pensamos na nossa fé, aquilo que pensamos que está na raiz é, não só o sacrifício de Cristo por nós, mas também a Regra de Ouro, sabes, tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. E penso que é isso que tentamos transmitir às miúdas e é isso que me motiva enquanto presidente e penso que quanto mais coerente eu for na fidelidade a esses preceitos, serei melhor pai, melhor marido e, espero, melhor Presidente.”

Admiro o Presidente por não ter vergonha de invocar a autoridade e os ensinamentos de Cristo quando nos revela as suas deliberações internas a respeito deste assunto. Numa era em que muitas das nossas instituições que influenciam a cultura desprezam, instintivamente e sem pensar duas vezes, as considerações teológicas como sendo sub-racionais, a honestidade do Presidente é refrescante e bem-vinda.

Mas parece-me que a sua invocação da Regra de Ouro, por mais apropriada, audaciosa e louvável que possa ser, não justifica a sua mudança de opinião. A Regra de Ouro – “o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt. 7,12) – não é um quid pro quo para a satisfação recíproca. Nesse caso, significaria que se se fossemos mosoquistas, por exemplo, deveríamos infligir dor aos outros.

Quando Cristo nos deixou a Regra de Ouro como parte do Sermão da Montanha (Mt. 5-7, 27), sabia que os seus ouvintes o compreenderiam da mesma maneira que compreenderam outras partes dessa homilia, incluindo a pergunta: “Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?” (Mt. 7, 9).

Se a Regra de Ouro fosse apenas um pacto de auto-satisfação mútua para proteger as preferências de todos, então uma boa resposta à pergunta de Jesus seria: “Mas Jesus, e se o meu filho me pedisse uma pedra, porque preferia comer uma pedra do que um pão?”

Seria uma pergunta tola, porque a Regra de Ouro não é simplesmente sobre proteger as preferências do nosso próximo mas, antes, promover o seu bem. O Presidente, ironicamente, tem de confiar nesta interpretação, mais antiga, para que façam sentido as suas referências às responsabilidades enquanto “pai” e “marido”, porque o significado primordial desses termos está integrado numa cultura moral herdada que ele não inventou, mas que agora rejeita.

Jesus coloca-se a si e aos seus ensinamentos firmemente nesta tradição moral. “Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher, (...) Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois um só? Portanto, já não são dois, mas um só.” (Mt. 19, 4-6).

Jesus até reconhece que há uns que não se podem casar porque nasceram assim, outros pela interferência dos homens e há aqueles que renunciam ao casamento por amor do Reino do Céu (Mt. 19,12).

Esta compreensão do casamento é tão essencial para o Evangelho que Cristo e os seus primeiros discípulos compararam a relação do Senhor com a Sua Igreja à relação entre um noivo e a sua noiva. (Ver Mt 9,15, Mc 2,19, Lc 5,34, Jo 3,29, 2 Cor 11,2, Ef 5,25, Ef 5,31-32, Rev 19,7, Rev 21,2, Rev 21,9, Rev 22,17).


Porque a Regra de Ouro é, como Cristo o disse, “a Lei e os Profetas” (Mt. 7, 12), é o fundamento da missão da Igreja na Terra, o que significa que para o Cristão a Regra de Ouro integra-se inteiramente na teologia moral da Igreja, incluindo o seu entendimento do casamento e do bem-comum.

Embora o Presidente esteja enganado no que diz respeito à Regra de Ouro, seria interessante saber até que ponto está disposto a aplicar esta sua interpretação da mesma de forma mais generosa, para verdadeiramente “tratar os outros como gostaria de ser tratado.”


Ou a instituições associadas à Igreja, ou mesmo privadas, que não podem, por razões de consciência, fornecer cobertura de serviços contraceptivos ou abortivos conforme previsto no decreto da HHS?


Há dias em que gostava que Cristo nos tivesse deixado um ensinamento diferentes sobre o casamento, um que não nos obrigasse a defender aquilo que é claramente um conceito impopular nestes meios académicos em que ganhamos a vida. Mas o Senhor espera de nós obediência total, mesmo quando confrontados com perseguições e marginalizações.

Porque tal como Ele referiu, apenas nove versículos depois de ter dito a Regra de Ouro, “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu.” (Mt. 7, 21)


(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 11 de Maio 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

Francis J. Beckwith é professor de Filosofia e Estudos Estado-Igreja na Universidade de Baylor. É autor de “Return to Rome: Confessions of An Evangelical Catholic” (Brazos, 2009) e um dos quatro principais autores de "Journeys of Faith: Evangelicalism, Eastern Orthodoxy, Catholicism and Anglicanism" (Zondervan, 2012).

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