Wednesday 22 January 2014

De Beijos e Comunicação

Randall Smith
A verdadeira comunicação é muitas vezes mais difícil do que imaginamos, especialmente no que diz respeito a temas como sexo e romance.

Nos primeiros anos da universidade tive uma discussão com o meu amigo Ed. Eu dizia que ele não devia beijar uma mulher a não ser que estivesse aberto à possibilidade de se casar com ela. Atenção, não estava a dizer que teria de estar pronto para casar logo, apenas que deveria estar aberto à ideia e que, se o casamento com esta mulher em particular fosse uma perspectiva impossível ou impensável, então ele não devia estar a envolver-se desta maneira. O Ed nunca tinha ouvido ninguém dizer algo tão radical na vida e, naquela altura, achou a ideia absurda.

“Sou da Califórnia do Norte”, explicou, “e os jovens californianos têm uma compreensão sofisticada do sexo, por isso podemos envolver-nos em entretenimento sexual mútuo” (como ele lhe chamou), “sem que isso tenha implicações românticas”. Ele podia, explicou, “curtir” com “uma amiga” e seria “apenas diversão”. Nada mais.

É verdade que cada pessoa é diferente, mas mesmo assim eu não estava convencido.

Passadas algumas semanas o Ed trouxe um amigo até ao meu apartamento para repetir a discussão. “Ei, Smith”, disse ele, a rir-se, “diz ao Chris aquilo que me disseste a mim”.

E eu disse.

“É inacreditável”, respondeu o Chris. “É da Idade das Trevas. Eu sou da Califórnia do Sul”, disse ele (começava a notar um certo padrão), “e nós curtimos a toda a hora e não tem de significar nada”.

A Califórnia, ao que parece, tinha-se tornado a Terra do Beijo Insignificante.

Infelizmente para o Chris, estava acompanhado pela sua namorada. E embora ela tivesse ficado calada o tempo todo, passada uma semana acabaram. Quando, mais tarde, nos tornámos amigos e voltámos a falar daquela noite ela disse-me: “Estava sentada a ouvir e a pensar ‘O quê? Beijar não significa nada? Pois para mim significa!’”

Não é que o Chris fosse imoral. Simplesmente era novo e insensato e, claro, era da Califórnia. Deus sabe bem que eu não era mais “moral” do que ele, em termos de possuir as virtudes relevantes. Uma coisa é reconhecer que não sabemos comunicar efectivamente com mulheres sobre assuntos românticos, outra é aprender a fazê-lo sabiamente e bem. A esse respeito ainda tenho muito pouco a aconselhar aos jovens salvo isto: perseverem e rezem.

É precisamente porque sei que tão pouco sei sobre o que as mulheres pensam, que acho sempre estranho que outros homens presumam que sabem. O Chris presumiu saber o que a sua namorada queria; ele partiu do princípio, sem ter discutido o assunto com ela, que ela partilhava da sua atitude para com a relação física que tinham. O meio de onde ele vinha tinha-o convencido que toda a gente pensava da mesma maneira sobre a intimidade física. Pior, ele vinha de uma cultura que o tinha convencido que todas as mulheres encaram a intimidade física da maneira que certos homens gostariam que encarassem.

"Olha, dois bons amigos"

Se pensa que o que fazemos com o nosso corpo não tem qualquer significado intrínseco, então porque é que o sorriso é uma expressão universal de felicidade entre seres humanos? Não há um grupo na Terra que expresse a alegria com uma cara carrancuda. Até bebés recém-nascidos reagem positivamente perante um sorriso e choram quando vêem uma cara carrancuda. Os bebés até conseguem detectar a diferença entre um sorriso verdadeiro e um falso. Dizer que um beijo pode ser insignificante é como dizer que um sorriso não tem de significar que se está feliz. A questão é que, na verdade, normalmente é isso mesmo que significa. E as pessoas que nos vêem a sorrir têm boas razões para perguntar: “Porque é que estás tão contente?” Se nessa altura respondêssemos: “Porque é que um sorriso tem de significar que estou contente?”, achariam que eramos doidos.

De igual modo, a pessoa que andou a beijar não tem pelo menos uma boa razão para pensar que talvez tenha significado algo para si? Quando vemos duas pessoas a beijarem-se num filme o que é que pensamos: “Olha, dois bons amigos”? Não. Dizemos: “Ah, estão apaixonados”.

Dizer que um beijo não significa nada é tão insensato como tentar insistir que uma mulher que cozinha para nós todas as noites não está necessariamente interessada numa relação a longo prazo. Pensam que estou a brincar, mas conheci um rapaz que pensava isso. “Somos só amigos”, insistia. O facto de esta mulher estar a fazer-lhe o jantar todas as noites não lhe sugeria qualquer compromisso a longo-prazo, por isso partiu do princípio que para ela também não poderia querer dizer nada. Era como aquelas crianças que tapam os olhos com as mãos e dizem aos adultos à sua volta: “Não me conseguem ver”.

Jovens que estão a pensar em qualquer forma de intimidade física bem podem virar o bico ao prego e considerar não apenas o que eles pensam (ou presumem) que se está a passar, mas como é que a outra pessoa está a interpretar este acto físico. Estou a partir do princípio que o acto “não significa nada” porque é isso que quero, mas não necessariamente o que ela quer?

Vivemos num mundo pluralista e multi-cultural (ou pelo menos é isso que nos dizem), no qual é suposto os jovens serem sensíveis a outras culturas. E sabemos que certos gestos inocentes nos Estados Unidos podem ser interpretados de forma diferente, por exemplo, na Itália (não façam certos gestos com as mãos lá a não ser que queiram ter chatices). Por isso pessoas de boa vontade farão por ter cuidado.

Ter atenção aos sentimentos de outras pessoas e não partir do princípio que toda a gente interpreta um beijo como sendo “meramente para efeitos de entretenimento”, pode ser um bom começo no que diz respeito a lidar com o sexo oposto.

A não ser, claro, que queira ser um perfeito idiota.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 16 de Janeiro 2014 em The Catholic Thing)

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