Wednesday 10 February 2016

Cristãos Perseguidos no Médio Oriente em 2015

George J. Marlin
Em 2015 houve mais cristãos perseguidos do que membros de qualquer outra religião no mundo. A perseguição religiosa tem sido também a principal causa do grande aumento de migração forçada a nível global. De acordo com as Nações Unidas, o número de deslocados internos e refugiados atingiu um pico, no ano passado, de 60 milhões de pessoas.

Este ciclo persecutório cada vez maior criou também o mais significativo êxodo de cristãos na história do Médio Oriente.

Com populações inteiras a fugir das suas casas, os cristãos estão rapidamente a desaparecer de regiões inteiras – e não é só no Médio Oriente, mas também em África, onde várias dioceses se esvaziaram.

Em grande parte, esta migração é causada pela limpeza étnica motivada por ódio religioso. Os responsáveis por esta violência e intimidação sistemática são principalmente grupos terroristas islâmicos, em particular o Estado Islâmico.  

A perseguição levada a cabo pelo Estado Islâmico encaixa perfeitamente na definição de genocídio das Nações Unidas:

quaisquer dos seguintes actos cometidos com a intenção de destruir, em todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como por exemplo: matar membros do grupo e causar danos sérios corporais ou mentais aos membros do grupo…

Os actos de genocídio do Estado Islâmico são dirigidos em primeiro lugar contra os cristãos. Na sua revista online “Dabiq”, os militantes afirmam que vão “conquistar a vossa Roma, quebrar as vossas cruzes e escravizar as vossas mulheres, se Allah o permitir.”

O Estado Islâmico é liderado por fanáticos ideológicos que aderem a uma forma extremista de Islão salafita, que afirma que apenas eles são verdadeiros muçulmanos. Esta seita requer a criação de um califado para purificar o Islão do xiismo e da presença de infiéis. De acordo com Abu Bake Naji, um conhecido intelectual do Estado Islâmico, isto significa que os terroristas devem recorrer à jihad, definida como “nada se não violência, brutalidade, terrorismo, o aterrorizar de pessoas e massacres”.

Na Síria, esta política do Estado Islâmico e a guerra civil são responsáveis pela morte de mais de 250 mil pessoas e a deslocação de 11,6 milhões – metade da população do país. Pelo menos 3,9 milhões destas pessoas estão retidas no Líbano, na Jordânia, no Iraque e na Turquia. Incrivelmente, 25% da população do Líbano é agora composta por refugiados sírios. Porém, a maioria dos cristãos exilados recusam-se a ir para campos de refugiados ou a registarem-se com as agências de ajuda humanitária, com medo de serem raptados ou hostilizados por muçulmanos. Em vez disso dependem da ajuda de agências de auxílio internacional católicas, como a Ajuda à Igreja que Sofre, ou outros cristãos que os alimentem, vistam e ajudem a educar os seus filhos.

O Estado Islâmico espera apagar o passado, presente e futuro do Cristianismo. Em 2015 foram destruídas igrejas, locais de interesse histórico e manuscritos antigos. Um rico património está em perigo – uma herança que é séculos mais antiga que o próprio Islão.

Mais de 150 igrejas, centros pastorais e mosteiros foram danificados ou destruídos na Síria, incluindo a histórica igreja de São Jorge, em Qaber Shamiya, que foi pilhada antes de ser incendiada. A Igreja Apostólica Arménia dos Quarenta Mártires, em Alepo, foi destruída em resposta a eventos dos cristãos para comemorar o 100º aniversário do genocídio arménio.

As 45 igrejas cristãs em Mosul, no Iraque, ou foram destruídas ou transformadas em instalações militares ou então convertidas em mesquitas. Em Janeiro de 2016, imagens de satélite confirmaram que o mais antigo mosteiro do Iraque, Santo Eliseu, localizado no topo de um monte nos arredores de Mossul desde o ano 590 tinha sido reduzido a um monte de entulho pelo Estado Islâmico.

Estado Islâmico e cristãos coptas
Outros países do Médio Oriente também têm assistido a uma intensa perseguição, como podemos ver:

Irão: Os cristãos têm sido atingidos por rusgas e detenções em cada vez maior número. O número de cristãos atrás das grades duplicou em 2015, apesar de promessas do Governo para promover a tolerância religiosa.

Arábia Saudita: Esta nação, que não permite a construção de qualquer igreja cristã e continua a ter o pior registo de abusos em relação à liberdade religiosa. O novo rei já augurou uma abordagem ainda mais severa.

Sudão: O Presidente Omar al-Bashir elevou a intensidade da sua promoção do Islão de ala dura. O número de cristãos no país continua a diminuir a um ritmo acelerado.

Turquia: Apesar de promessas de reformas por parte do Governo, os cristãos ainda são tratados como cidadãos de segunda. Os cristãos temem ainda o aumento do Islão radical na Turquia.

Egipto: Os ataques a igrejas diminuíram desde que o Presidente Morsi abandonou o cargo, mas os cristãos continuam a ser alvo de ataques ao nível individual. A 7 de Janeiro de 2015 o Presidente el-Sisi deu um forte sinal de apoio quando participou numa celebração de Natal ao lado do Papa copta Tawadros II, na Igreja de São Marcos. Também condenou a violência do Estado Islâmico e de outros grupos radicais numa celebração do nascimento de Maomé. “É inconcebível que a ideologia que nos é mais cara transforme todo o mundo islâmico numa fonte de ansiedade, perigo, morte e destruição para o resto do mundo”. Foram palavras e gestos de importância monumental. Infelizmente, têm tido pouco eco no resto do Governo egípcio, em termos de garantir direitos básicos aos cristãos. 

Em relação aos governos ocidentais, enquanto muitos condenaram os crimes contra a humanidade dos radicais islâmicos, não implementaram quaisquer planos efectivos para pôr termo à violência ou para assegurar que os cristãos e outras minorias recebam protecção ou um espaço seguro onde viver. Contudo, ainda o outro dia o Parlamento Europeu declarou que o Estado Islâmico está a levar a cabo um genocídio e pediu aos estados-membro que façam chegar a todos os grupos que são alvo desta crime “protecção e ajuda, incluindo ajuda militar e humanitária” em conformidade com o direito internacional.

Mas enquanto grande parte do Ocidente continua a olhar, muitos cristãos do Médio Oriente continuam a manter-se firmes, independentemente das dificuldades. A posição dos cristãos em dificuldade foi bem descrita pelo Arcebispo Melquita de Alepo, Jean-Clement Jeanbart:

Estamos a confrontar um dos desafios mais importantes da nossa história bi-milenar. Lutaremos com todas as nossas forças e agiremos com todos os meios possíveis para dar ao nosso povo razões para ficar e não abandonar; sabemos que o caminho que temos pela frente será muito difícil; não obstante, estamos convencidos que o nosso amado Senhor Jesus está presente na Sua Igreja e que jamais nos abandonará. Sabemos que nada pode intrometer-se entre nós e o amor de Jesus Cristo – e que através de todos estes desafios triunfaremos através do poder daquele que nos ama.


(Publicado pela primeira vez no Sábado, 6 de Fevereiro de 2016 em The Catholic Thing)

George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.

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1 comment:

  1. Tem que ser mais ecoado isto , por exemplo num país como brasil com 155 milhões de católicos e vemos poucos saberem de tanta informação assim obrigado

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